quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Temática Vitolfílica

As fábricas de tabaco, em especial os fabricantes de charutos, souberam usar as tecnologias litográficas para os seus produtos tabaqueiros, numa iniciativa de marketing e por necessidade imperativa de identificação das marcas e fábricas, preservando-as das fraudes.

Porém, o que se verificou na prática, para além dessa funcionalidade, foi a proliferação de séries de cintas, de temas diversos, e a consequente venda desmedida de charutos, sem que para isso se alterasse a qualidade do produto final – ocharuto.

Refiro-me concretamente às séries infindáveis, que desenvolvendo uma vastíssima temática, reproduzem retratos de políticos, pinturas e pintores, flora e fauna, desporto e moda, bandeiras e transportes, histórias infantis (o Capuchinho Vermelho, o Gato de Botas, Tintin e Milú, Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, a Casa de Chocolate), religião, enfim, mil e uma cores em tamanhos pequenos, médios e grandes, à procura de namorar os coleccionadores.

No vastíssimo vitolário europeu, para além das cintas referidas, existem outras que documentam um nome, uma empresa, um produto, uma efeméride, um clube, um casamento, um baptizado, algumas confeccionadas em papel autocolante e em fracas purpurinas.

As chamadas cintas “clássicas”, engalanadas em “pan de oro”, reproduzindo personagens, cujos feitos ficarão na memória dos vindouros, desfile interminável de reis, presidentes, homens de estado, conquistadores, inventores, marinheiros, militares, músicos, e as
mulheres de pompa e circunstância, representam “as meninas dos olhos” dos coleccionadores.

Cogito, ergo sum



* “O tabaco é a planta que transforma pensa-
mentos em sonhos”
Victor Hugo (1802-1885)
* “Um charuto entorpece o desgosto e enche as horas solitárias com um milhão de imagens agradáveis” George Sand (1804-1876)

* “Não me peçam para descrever os encantos do devaneio ou o êxtase contemplativo em que o fumo de um charuto nos mergulha” Jules Sandeau (1811-1883)

* “Do que este país necessita é um bom charuto de cinco cêntimos”
Thomas Marchall
(Vice-Presidente USA, 1919)

* “Se não puder fumar no céu, então não irei para lá”
Mark Twain (1835-1910)
* “ Uma mulher é apenas uma mulher, mas um bom charuto é um Charuto”
Rudyard Kipling (1865-1936)

* “ O coração e o charuto são símbolos um do outro; ambos se queixam e se desfazem em cinzas”
Machado de Assis (1839-1908)

* “Se o nascimento de um génio se assemelha ao de um idiota, o fim de um Havana Corona assemelha-se a um charuto de cinco cêntimos”

Sacha Guitry (1885-1957)

* “ Um charuto não é um hábito é um estilo”
Gerhard Dannemann (1850-1921)

* “ Meu caro, fumar é dos maiores e mais baratos prazeres da vida, e se á partida decidires não fumar, só poderei lamentar-te”
Sigmund Freud (1856-1939)

* “ Mais vale um charuto sem refeição do que uma refeição sem charuto”
( Anónimo)

* “ Se uma mulher conhecer as preferências de um homem, incluindo a sua preferência em matéria de charutos, e se um homem souber do que gosta uma mulher, estarão ambos convenientemente apetrechados para se enfrentarem”
Colette (1873-1954)

* “ Bebo muito, quase não durmo e fumo um charuto atrás de outro. É por isso que estou duzentos por cento em boas condições físicas e mentais”
Winston Churchill (1874-1965)

* “ O fumo é um óptimo companheiro para a solidão de um soldado”
Che Guevara (1928-1967)

* “ Se nos esquecermos de uma deixa, tudo o que há a fazer é enfiar um charuto na boca e puxar umas fumaças até que nos lembremos do que nos tínhamos esquecido”
Grouxo Marx (1890-1977)

domingo, 8 de novembro de 2009

Os Contributos Temporais


Os principais promotores de charutos na Europa foram os espanhóis. As estreitas relações que mantinham com os países da América Central e Sul, controlados por Espanha, abriram caminho à degustação de charutos.

Cuba era o espaço privilegiado para o cultivo de tabaco para charutos, devido ao solo, ao clima e à tradição de enrolar os charutos. Em 1821, o rei Ferdinando VII, de Espanha
, decretou que a produção de charutos em Cuba deveria ser expandida e controlada, uma vez que o hábito de fumar já se tinha afirmado em França e Inglaterra.

O Rei Edward VII, de Inglaterra, era um fã incontrolável de charutos. As suas palavras “Cavalheiros, os senhores devem fumar” contribuíram para o hábito de fumar charutos em todo o território britânico. Muitas personalidades têm vindo a tornarem-se fãs dos charutos e algumas emprestam o seu nome à marca de que é exemplo Sir Winston Churchill, de quem se diz ter fumado cerca de trezentos mil durante a sua vida.

Outro estadista que terá tido influência sobre o acto de fumar foi o presidente John F. Kennedy, grande apreciador de charutos cubanos. Todavia, em 1961, depois do fiasco da Baía dos Porcos, assinou uma declaração de embargo a toda e qualquer relação comercial entre os Estados Unidos e Cuba. Face a esta situação, outros países produtores de charutos como o Brasil, República Dominicana, Honduras, Nicarágua e México aproveitaram para ocupar o lugar de Cuba.
Algumas das personalidades fumadoras de charutos foram os actores Charles Chaplin, Groucho Marx, B
ill Crosby, Eduard G. Robinson, Arnold Schwarzenegger; os escritores Somerset Maugham, Rudiard Kipling, Mark Twin, Óscar Wilde; os cientistas Albert Einstein, Sigmund Freud; os políticos Ulisses S. Grant, Otto Von Bismarck, Eduard VII, Farouk, Fidel Castro,
Che Guevara.

A explicação filosófica para a degustação ou o prazer de fumar charutos pode ser entendida do seguinte modo: Platão sugeriu que considerássemos a alma como sendo dividida em três partes: a vegetativa sensorial, a espiritual ou sensitiva e a racional, correspondendo cada uma das três categorias aos desejos humanos – o desejo da satisfação dos apetites físicos, o desejo do reconhecimento pelos outros e o desejo de conhecer a verdade.

Considerando a relação que existe entre o consumo do tabaco e a alma humana, podemos tomar como ponto de partida os três processos mais comuns de fumar cigarros, charutos e cachimbo. Os cigarros correspondem à parte vegetativa (o apetite sensorial); os charutos à parte espiritual sensitiva da alma, explicado pela procura da honra, reputação e ambição; o cachimbo à parte racional da alma.

México : a nascente

O extenso vitolário de marcas mexicanas não permite, aqui e agora, porque o espaço é curto e o tempo breve, um exaustivo estudo descritivo das fábricas e marcas antigas que, devido às perturbações políticas e revoluções constantes, aconteceu no México, nas duas primeiras décadas do século XX. Algumas fábricas foram saqueadas e incendiadas pelo que se perdeu bastante material vitolfílico em depósito. Todavia, o que sobreviveu, consideradas cintas clássicas, tem preços altos no mercado vitolfílico. Estão neste caso as marcas La Rica Hoja, La Violeta, La Perla, Balsa Hermanos, André Corrales, Bernabé Garcia, El Destino, La Família, La Rosa de Oro, Agustin Blanco, La Prueba, entre outras.

Mas, recuperando o tempo, refira-se que a Península de Yucatán é, provavelmente, o local de dá origem ao cultivo do tabaco. Os povos nativos terão sido os primeiros a plantar e a fumar tabaco. Alguns investigadores afirmam que os índios Tainos, do Caribe, já fumavam folhas há dois mil anos, costume que foi seguido pelos Maias da América Central. Esta civilização floresceu no século IV d. C., desenvolveu-se na Península de Yucatán, Honduras e Guatemala, dependia economicamente da agricultura que, para além do milho, cultivava o tabaco, cujo fumo era utilizado em rituais e cerimónias.
Uma relíquia datada do século X, descoberta em território da Guatemala, mostra um Maia fumando folhas juntas por um fio de barbante amarradas em forma de rolo. O povo Maia adquiriu um grau de evolução no que se refere ao conhecimento da matemática e da astrologia, acreditavam que o destino do homem era regido pelos deuses, a quem ofereciam alimentos, sacrifícios humanos e animais.

Nos temas abordados pelas marcas charuteiras mexicanas para embelezar e identificar os charutos, destacam-se os retratos de políticos e homens de estado – Porfírio Diaz, Francisco Madero, Limantour, Miguel Hidalgo, Mondragon, José Canalejas, Benito Juarez; uma referência especial ”Muñeca” de Andrés Corrales.

Das marcas actuais de charutos feitos à mão, salienta-se os Te-Amo, Matacan, Santa Clara e Veracruz. A família Turrent, envolvida na cultura do tabaco há cinco gerações, é o maior fabricante de charutos do México. O primeiro Alberto Turrent emigrou de Espanha para o México em 1880, onde estabeleceu fazendas de tabaco no vale de San Andrés, no sudoeste de Veracruz.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sótão de curiosidades charuteiras

»Em 1586, o Rei Filipe II de Espanha ordenou que as folhas de tabaco fossem queimadas por serem prejudiciais ao corpo e ao espírito e por contrariarem regras da cristandade, impostas pela igreja e controladas pela Inquisição.

» No início do século XVII, o tabaco era fumado apenas em cachimbo nas colónias americanas. O charuto propriamente dito só apareceu em 1762, quando o general Israel Putnam trouxe os primeiros charutos de Cuba e sementes da planta para os Estados Unidos.

» Em meados do séc. XVIII, em especial em França e Inglaterra, o hábito de fumar charutos espalhou-se entre os cavalheiros de tal modo que, nos comboios, existiam carruagens próprias para degustar charutos.

» Na altura da guerra civil americana (1861-1865), o hábito de fumar charuto divulgou-se imenso em todo o país. Depois das reduções de impostos na década de 1870, os charutos começaram a encontrar-se com mais facilidade e a produção doméstica aumentou. Em finais do séc. XIX e de modo análogo ao que se passou na Europa , o charuto tornou-se símbolo de estatuto superior.
» No séc. XIX, em França, surgiu a necessidade de uma roupa própria para protecção do odor do fumo dos charutos. Criou-se então o “Smoking Jacket ou jaqueta de fumar com a aparência de um “robe de chambre”, normalmente feito de veludo, caxemira ou seda, de cores brilhantes e ornamentado com grandes botões. As lapelas eram largas, combinando com uma faixa do mesmo tecido em volta das mangas. Uma camisa social branca era usada por baixo, sempre com uma gravata borboleta ou “écharpe”. A calça era sempre preta, azul-marinho ou cinza-escura com sapatos de amarrar ou enfiar, pretos, ou chinelos persas de seda.


Em 1845, Don Jaime Partagas deu o seu nome a uma nova marca de Havanos. Era um homem apaixonado pela beleza feminina. Dono de vegas em Vuelta Abajo, visitava frequentemente as suas plantações, não só com o fim de seguir os progressos, mas também na tentativa de desfrutar de alguns romances. Amores, ciúmes e vingança estão relacionados com o assassinato de Don Jaime, encontrado morto numa manhã, envolto em misteriosas circunstâncias, numa das suas vegas.

» Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o lucro dos postais vendido pela Cruz Vermelha permitia que fossem mandados charutos aos soldados em combate.

» O fumador de charutos mais conhecido foi Winston Churchill (1874-1965), de quem se diz ter fumado 250000 charutos. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por ocasião dos ataques aéreos a Londres pelos alemães, o fornecedor de charutos Alfred Dunhill, através do seu gerente, telefonou a Churchill para lhe garantir que os seus charutos não tinham sido atingidos.

»“Os deuses inventaram o charuto para desfrutar do prazer especial do sabor do tabaco. De cada vez que se vislumbra um relâmpago e soa um trovão, os deuses estão a fazer fogo para acender um charuto”. In Civilização Maia (México)
» O maior charuto do mundo foi fabricado pela indústria tabaqueira Pedro Capote (Espanha); exibido na feira Oficial e Internacional de Amostras de Barcelona, pesava cento e um quilogramas e media três metros e vinte centímetros.

Os charutos e as mulheres

Ao longo dos tempos, tem sido significativo o número de mulheres fumadoras de charutos. Já no século
XVIII, Catarina II, imperatriz da Rússia, era fumadora de charutos (aliás, é-lhe atribuída a invenção da cinta de charuto, para evitar manchar os dedos), pelo que não é novidade o facto das mulheres, hoje, fumarem charutos.

O que acontece é um certo sigilo, alguma privacidade do acto de fumar, remetendo para círculos mais restritos ou mesmo terapia de grupo
a degustação de charutos. Não se trata de uma conquista feminina do “status” social, nem uma equiparação ao hábito masculino, mas tão somente a liberdade, inerente à sua condição humana.

A sociedade ainda reflecte preconceitos no que diz respeito à prática pública das mulheres fumadoras, especialmente de charutos.


Fumar um charuto pode representar uma atitude sexy, onde o prazer se confunde com o vício. Muitas fumadoras de charutos, movendo-se em círculos artísticos ou boémios, quebrando as grilhetas do parece mal ou não é feminino, têm desafiado as regras sociais.

A aparência fálica do charuto serve
para testemunhar a virilidade ou a feminilidade do desejo de reconhecimento dos outros. Há quem defenda que a imagem do charuto está associada ao poder e ao estatuto das colunáveis. Privilégio ou não de certo extracto social, certo é que a classe média já tomou de assalto essas trincheiras.

Entre tantas fumadoras de charutos, muitas escondidas no anonimato, contam-se os nomes das actrizes Marlene Dietrich, Greta Garbo, Jodi Foster, Mae West, Leslie Caron, Demi Moore, Woopi Goldberg, das escritoras George Sand, Colette, das cantoras Fafá de Belém, Madona e da modelo Linda Evangelista.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fragmentos da história da indústria de charutos

As características do solo e o microclima terão contribuído para que a ilha de Cuba ocupasse o primeiro lugar no podium dos fabricantes de charutos, desde o século XIX. Todavia, dois momentos históricos na ilha são os responsáveis pelo desenvolvimento da indústria tabaqueira, em especial a produção de charutos, noutros países da América Central. Caso da República Dominicana, Honduras, Nicarágua e Jamaica e também Estados Unidos e Brasil.

Refiro-me ao fim da colonização espanhola, em 1898, e à revolução de Fidel Castro, em 1959, esta ultima com a nacionalização das fábricas de tabaco.

Dessa rotura social, resultou a emigração de famílias de charuteiros cubanos e a consequente instalação de fábricas nesses países.

A República Dominicana possui um clima quente favorável ao cultivo de tabaco para charutos. A maioria das fábricas encontra-se em Santiago e no vale do Cibao. Estas plantações estão referenciadas desde o início do século XVII, mas é a partir dos anos sessenta do século XX que se dá o “boom” de charutos de grande qualidade.

Refira-se as marcas actualmente produzidas na ilha: A. Fuente, Macanudo, La Aurora. Ashton, Avo, Davidoff, La Glória Cubana, Cuesta Rey.

Na Nicarágua, a maior parte da população trabalha na agricultura que inclui a cultura do tabaco. São quatro as regiões privilegiadas para a cultura do fumo: Jalapa, Esteli, Condega e Ometempe. Entre os melhores charutos estão os Tatuaje, Don Pepin, Oliva, Padron e Perdomo.

A República das Honduras caracteriza-se por ser uma região pantanosa de clima tropical. As plantações de tabaco e o fabrico de charutos têm-se tornado muito importantes, especialmente a partir de 1960, com a chegada de emigrantes cubanos. De notar que algumas marcas de charutos hondurenhos têm nomes iguais as marcas cubanas: El Rey del Mundo, Hoyo de Monterrey e Punch. Uma gama de charutos feitos à mão inclui as marcas como Don Tomás, Don Ramos, Escalibur, Zino, Bances e CAO.

A Jamaica é um país montanhoso com clima tropical marítimo. O fabrico de charutos na ilha vem desde o século XIX, altura em que emigrantes cubanos aportaram à ilha e instalaram fabricas em Kingston. As marcas de charutos mais conhecidas são Os Macanudo, Temple Hall e Royal Jamaica.