sábado, 30 de maio de 2015

IN ILLO TEMPORE


Não sou fumador ativo, mas na adolescência fui atraído pela degustação do tabaco, uma atitude que transforma os rapazes em homens. À falta da nicotiana tabacum, também serviram, nessa época, as barbas de milho. Dos cigarros ao cachimbo foram experiências. Mais tarde, os charutos, namorei-os e um ou outro lá fui degustando em dias ou noites de festa. As cintas de charuto foram um amor à primeira vista e há décadas que as vou colecionando.
O colecionismo em geral, refiro-me à filatelia, à numismática, à vitolfilia, ao filumenismo, à glucofilia, aos postais ilustrados, porta-chaves, pins, cromos, etc., parece ser uma coisa de velhos, os jovens têm outros voos. Primeiro é preciso gostar de aprender e aprender a gostar, depois é partir para a descoberta, pesquisa e catalogação. É o encontro com a história, a (re)descoberta de aspetos desperdiçados ou ignorados. Aberto o caminho para o (re)conhecimento do material no universo histórico, paralelamente torna-se relevante a relação humana dos contatos com outros colecionadores.
 
O tabaco, de uma maneira geral, tem servido para muitas coisas. In illo tempore, os Astecas consideravam que o sumo do tabaco era um antídoto contra o veneno das cobras e os Maias atribuíam-lhe poderes milagrosos. Parece, pois, que o uso do tabaco começou com fins medicinais. No primeiro milénio a C.,os indígenas da américa central usavam a planta em rituais religiosos e mágicos, como forma de purificar, fortalecer e proteger os guerreiros das tribos. No século XVII, o cientista alemão Johan Neander (1585-1650) publicou estudos sobre os efeitos terapêuticos do tabaco, considerando a sua utilização benéfica para a cura de vários males.  


Em rapé (cheirado ou mascado) e fumado, o tabaco passou por diversas vicissitudes. Em relação aos fumantes, Filipe II de Espanha (1527-1598) ordenou, em documento oficial, que a folha de tabaco fosse queimada em público como erva prejudicial e danosa. Jean NIcot (1530-1600), embaixador francês em Portugal, enviou a Catarina de Medici algumas sementes de tabaco da América para serem plantadas, cultivadas e usadas como remédio para gargarejo e vomitório e recomendou o tabaco como uma coisa boa para fazer inalações e servir de dentífrico.  
Passados vários séculos desde que os marinheiros de Cristóvão Colombo, Luiz de Torres e Rodrigo de Jerez, descobriram a planta de tabaco, fumado pelos homens-chaminés, na América, que a planta tem proporcionado muito trabalho e dinheiro.
Existe uma vasta bibliografia sobre o tabaco. Relativamente às obras literárias, saliento Fumo Sagrado, do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), Bahia – Terra de Todos os Charutos, um retrato das empresas brasileiras, de Hugo Carvalho e O Tabaco e o Poder, da escritora portuguesa Maria Filomena Mónica. Relativamente às teses de mestrado, cito Versos, Cinzas e Havanas: um estudo sobre o charuto no romantismo brasileiro, de Raquel Ripari Neger e As Charuteiras  do Recôncavo Baiano, de Elisabete Rodrigues da Silva.