domingo, 16 de julho de 2023

AS FÁBRICAS DE CHARUTOS

 

O fabrico de charutos constitui-se como uma das principais indústrias cubanas desde o século XVII. Nas fábricas de charutos de Cuba, para além da manufatura de charutos, desenvolveu-se uma atividade de cariz social educativa chamada O LEITOR. Cada fábrica tem um empregado que lê para os colegas charuteiros. Leem os jornais, a poesia, as revistas, as receitas de cozinha e os romances eternos. Estes leitores são certamente o veículo cultural na rotina dos operários, que passam os dias a enrolar as folhas de tabaco. Os grandes romances como Madame Bovary (Gustavo Flaubert) e Os Miseráveis (Vitor Hugo) terão ajudado a alimentar a consciência social dos trabalhadores, a maioria dos quais eram analfabetos. Algumas das personagens desses romances, por exemplo Romeo e Julieta, Sancho Pança, Monte Cristo tornara-se nomes de marcas de charutos.



São os próprios operários que escolhem o que querem ouvir enquanto enrolam os charutos, ler com os ouvidos. Até ao início da segunda metade do século vinte eram os próprios operários que pagavam o salário ao LEITOR, quer em dinheiro quer produzindo uma quantidade de charutos para que o colega não tivesse que os fazer.        

As fábricas de tabaco brasileiras deixaram outros legados culturais. Nelas nasceu O Samba de Roda, uma tradição da cultura afro-brasileira. As operárias, enquanto enrolavam os charutos, entoavam cantigas e usavam as ferramentas de trabalho como percussão. A fábrica Suerdieck, fundada 1892 pelo alemão August Suerdieck, é exemplo disso. O Samba de Roda é, pois, um estilo musical popular brasileiro, uma variante do samba com raízes africanas, que reúne diversos músicos, poesias e dança. O grupo de músicos forma uma roda que tocam vários instrumentos dos quais de destacam a viola, o pandeiro, o chocalho, o atabaque, o ganzá, o reco-reco, o agagê e o berimbau.  

    



terça-feira, 13 de junho de 2023

DOM QUIXOTE DE LA MANCHA

As cintas de charuto (vitolas ou anilhas) apresentam-se em duas vertentes: as cintas clássicas e as de série. Enquanto as primeiras são exemplares únicos, as de série desenvolvem um tema por um número variável de cintas.

Decorria a segunda metade do século vinte, quando a Fábrica de Tabaco Álvaro, nascida em 1921, nas Canárias (Espanha), cujo proprietário foi Dom Álvaro Gonzalez de Paz (1900-1983), lançou no mercado, a partir de 1966, várias séries de cintas em tamanho gigante (vitolinas) que foram colocadas como oferta, uma em cada caixa de charutos. Entre estas, destaca-se a série Dom Quixote de la Mancha, composta por cento e sete cintas, fabricadas pela litografia holandesa Chr. Shafer Jr., emitidas em maio de 1969, com uma tiragem de trinta e sete mil e trinta e sete séries. Em fevereiro do ano seguinte, especialmente, uma nova emissão com uma quantidade semelhante de séries viu a luz do dia.

A primeira cinta da série apresenta o retrato do escritor da obra, o espanhol Dom Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) e cada uma das seguintes cintas mostra uma cena dessa obra imortal.

 O livro parodia os romances de cavalaria que gozavam de imensa popularidade e na altura já estavam em declínio. O protagonista, um pequeno fidalgo castelhano, já de certa idade, entrega-se à leitura desses romances de cavalaria, perde o juízo, pois acredita que tenham sido historicamente verdadeiros e decide tornar-se cavaleiro andante e imitar os seus heróis preferidos. O romance narra as suas aventuras na companhia do seu fiel amigo, Sancho Pança. A ação passa-se em terras da Mancha, de Aragão e da Catalunha, por montes e vales, onde Dom Quixote luta contra moinhos de vento e cavaleiros imaginários em nome da justiça. 



terça-feira, 24 de julho de 2018

DONA FLOR


A cinta de charuto Dona Flor foi inspirada na principal personagem do romance “Dona Flor e seus Dois Maridos”, como homenagem do presidente da empresa tabaqueira brasileira Menendez & Amerino ao amigo e escritor baiano Jorge Amado (1912-2001).



Fundada em 1977, em São Gonçalo dos Campos (Bahia), a Menendez & Amerino é o resultado da união do empresário baiano Mário Amerino da Silva Portugal com a família Menendez, antiga fabricante dos charutos Montecristo e H. Upmann, em Cuba.

Jorge Amado foi um dos maiores representantes da ficção regionalista brasileira que marcou o Segundo Tempo Modernista, com obras de cunho social e crónicas de costumes.

O romance “Dona Flor e seus Dois Maridos” foi publicado em 1966 e levado ao cinema, ao teatro e à televisão.

O romance inicia-se com a morte de Vadinho, um boémio, jogador e alcoólico que morre subitamente em pleno carnaval, vestido de baiana. Apesar da vida desregrada de Vadinho, a viúva era apaixonada pelo seu marido. Cortejada por Teodoro, um farmacêutico pacato e religioso, de idade avançada, Dona Flor acaba por casar com ele. Porém, o espírito de Vadinho passa a atormentar Dona Flor que hesita entre se manter fiel ao seu novo marido ou ceder ao espírito do primeiro. 



sexta-feira, 20 de julho de 2018

O tempora! O mores!

Já lá vai o tempo em que fumar, especialmente charutos, era apanágio de homens de negócios, políticos, artistas, atores. A divulgação do charuto foi publicitada, de certo modo, pelos media. Edward G. Robinson, Orson Welles, Groucho Marx, Charles Chaplin, Sigmund Freud, Winston Churchill, Fidel Castro, Getúlio Vargas, entre outros, marcaram a sua geração fumando belos charutos.

Hoje, fumar um charuto acontece em círculos fechados ou em eventos, nomeadamente casamentos, em espaços abertos, por um estrato da população idónea e por alguns jovens, na descoberta do prazer de fumar.

Algumas fábricas holandesas, belgas e alemãs apanhadas pela crise mundial fecharam as suas portas e, deste modo, a produção de charutos ficou claramente reduzida. Será que a publicidade feita sobre o mal que o tabaco provoca afetou os fumadores?             

Fechadas as portas dessas fábricas, o não fabrico de charutos prejudicou as emissões de cintas de charuto que desenvolviam temáticas de factos históricos mundiais, aspetos da fauna e da flora e os retratos de figuras ilustres. Todavia, as fábricas de charutos sediadas na República Dominicana, Nicarágua e Honduras têm documentado os seus charutos com cintas, que embora coloridas e brilhantes, não desenvolvem temas em séries, limitando-se a peças isoladas.

Por outro lado, o colecionismo das cintas de charuto, que proporciona o conhecimento cultural de temas políticos, económicos e sociais e o intercâmbio de duplicados com outros colecionadores fica limitado às efemérides do passado, deixando em status quo a abertura à inovação.        

domingo, 26 de fevereiro de 2017

A PINTURA IN VITOLFILIA

Muitas são as temáticas abordadas e desenvolvidas in vitolfilia. Durante algumas décadas do século XX, várias fábricas europeias emitiram séries de cintas de charutos para identificar os seus “puros”, em especial as oriundas de Espanha, Bélgica, Holanda e Alemanha.

Ou fosse para aumentar as vendas dos charutos, através de uma técnica de marketing ou fosse pela historia económica, científica, artística e desportiva, certo é que contribuíram para divulgar a cultura. As denominadas séries, cada uma composta com um número variável de cintas, desenvolviam os temas em causa, através de uma abordagem diversificada: a fauna, a flora, o desporto, os monumentos, os transportes e os retratos de políticos, músicos, pintores, escultores e casas reais europeias.

A história da pintura começa nos tempos pré-históricos e passa junto de todas as culturas até aos nossos dias e vai desde a Pintura Rupestre até à Idade Contemporânea. Milhares dessas representações artísticas perpassam por diferentes períodos da história, documentando atos quotidianos, mitológicos, religiosos.   

A temática da pintura in vitolfilia foi amplamente divulgada não só pelos retratos dos pintores, mas especialmente pelos seus quadros dos períodos da Idade Média, Renascimento, Barroco e Modernismo (Séculos XVIII e XIX). Os quadros de Rembrandt, Frans Hals, Velazquez, Renoir, Goya, Van Gogh, Monet, Picasso e Rubens, entre outros, foram reproduzidos nas cintas de charuto.      


Uma referência para as marcas espanholas Alvaro e Reig, que focaram apenas os quadros dos pintores espanhóis Alonso Cano, Berruguete, Goya, El Greco, Murillo, Ribera, Valdés Leal, Velazquez, Vicente Lopez e Zurbaran e para a marca holandesa Washington que reproduz a História da Pintura.

terça-feira, 26 de julho de 2016

CINTAS DE CHARUTOS (VITOLAS): LENDA E HISTÓRIA

A essência do colecionismo de cintas de charutos (vitolfilia) é a cinta de charuto, ela própria de corpo e alma, verdadeiro ex-libris do charuto. Com o desenvolvimento da litografia, cuja invenção se deve ao checo Johann Alois Senefelder (1771-1834), foi aberto o caminho para embelezar e identificar os rótulos das caixas de charutos e os charutos. A cinta de charuto tem a sua mitologia própria.  

Sobre a lenda, diz-se que os primeiros fumadores de charutos europeus foram os dândis ingleses. Estes, apercebendo-se que as suas impecáveis luvas ficavam manchadas com a nicotina dos seus charutos, pediram aos seus criados de quarto que introduzissem um anel de papel à volta de cada charuto e o colocassem perto da extremidade do charuto que metiam na boca, a fim de evitar que as suas preciosas luvas ficassem tingidas com a fuga dos fluidos da nicotina.

Uma outra interpretação da lenda, descrita no livro All The Best in Cuba, de Sydney Clark (1890-1975), refere que as cintas de charutos têm, curiosamente, uma origem feminina já que foram confecionadas pela primeira vez em Havana, não para servir de adorno ou identificar o charuto, mas para permitir que os delicados dedos das damas espanholas da alta sociedade  não estivessem expostos ao contacto com a folha de tabaco, sempre que fumassem charutos.
Sobre a história, diz-se que o produtor cubano, de origem holandesa, estabelecido em Havana, de seu nome Gustave Antoine Bock (1837-1911), queria que os seus charutos se distinguissem dos outros, mesmo quando fora da caixa de charutos, criou a cinta que devia ser colocada ao redor de cada charuto.

Bock, quando inventou a cinta, nunca teria certamente imaginado que estava a criar um precioso anel de noivado entre o fumador e o seu charuto.
IN MEMORIAM

Na segunda metade do século XX, as fábricas de charutos espanholas, belgas, holandesas e alemãs produziram muitas séries de cintas de charutos (vitolas) para identificarem os seus charutos. A temática, diversificada, abordava figuras e factos da história mundial, a fauna e a flora, o desporto, os transportes, a pintura e a escultura, as paisagens e as bandeiras, entre outros.  

A marca holandesa Washington desenvolveu aspetos da história dos Estados Unidos da América em diversas series, com um número variável de cintas por serie, em vários formatos. A pequena série de três cintas em quatro cores, IN MEMORIAM, reproduz os retratos de J.F. Kennedy, Martin Luther King  e Robert Kennedy, personagens americanas assassinadas na década de sessenta do século XX.

John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) – Foi o 35º Presidente dos Estados Unidos (1961-1963) e é considerado uma das personagens relevante do século XX. Eleito em 1960, tornou-se o segundo mais jovem presidente depois de Theodore Roosevelt. Morreu assassinado a 22 de novembro de 1963 em Dallas (Texas). O ex-fusileiro naval Lee Harvey Oswald foi preso e acusado do assassinato, mas foi morto por Jack Ruby e por isso não foi julgado.

Martin Luther King Jr. (1929-1968). Foi um pastor protestante e ativista político. Tornou-se num dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos com uma campanha de não-violência e de amor ao próximo. Os seus esforços levaram-no à Marcha sobre Washington em 1963, onde fez o seu discurso “I have a dream”. Foi assassinado em Memphis em abril de 1968 por James Earl Rey.


Robert Francis Kennedy (1925-1968). Um dos irmãos mais novos de John Kennedy. Foi Procurador-geral e Senador dos Estados Unidos, tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia. À data do seu assassinato, em 5 de junho de 1968, comemorava os resultados das eleições dos democratas, no Ambassador Hotel de los Angeles.