domingo, 21 de novembro de 2010

Duas histórias, o mesmo espírito

A empresa de charutos Julien Bahia, sediada em Cruz das almas no Recôncavo baiano (Brasil), produz, entre outras, uma marca de charutos denominada Quitéria, homenageando Maria Quitéria, patrono do exército brasileiro. Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1792-1853) foi uma heroína das guerras pela independência do Brasil, reconhecida pelo rei D. João IV, em 1825. A sua luta pela vida, pela Cachoeira, pela Pátria, pela libertação da mulher, foi exemplar. Maria Quitéria, com roupas masculinas, alistou-se num regimento de artilharia e em seguida de infantaria como soldado Medeiros.

Adelina, a charuteira, maranhense de São Luís, era filha de uma escrava com um Senhor. Sabia ler e escrever, porém seu pai empobreceu e passou a fabricar charutos. Adelina era então a sua vendedeira, circulando pela cidade, vendia charutos para os bares bem como para os fregueses avulsos. No largo do Carmo, onde costumava parar, vendia charutos aos estudantes de liceu e aí teve oportunidade de assistir a comícios abolicionistas promovidos por eles. Com a facilidade que circulava pela cidade, Adelina era uma importante informadora das acções da polícia aos activistas e ainda ajudava na fuga dos escravos, cooperando assim com o movimento abolicionista.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Coleccionando




Desde que o homem existe, sentiu a necessidade de possuir vários objectos. Assim, se estabelece, necessariamente, uma estreita relação entre o sujeito e o objecto. O instinto do coleccionador poderá surgir entre os três e os seis anos, quando a criança começa a tomar auto-consciência do(s) mundo(s) envolvente.

Durante algum tempo, o coleccionador é um ser solitário e anónimo, trabalhando na sombra e desenvolvendo uma actividade visível só para si próprio. À medida que conhece outros coleccionadores, vai aumentando a sua rede de contactos e, por consequência, adquirindo por troca ou compra as peças que não tem na sua colecção.

De certo modo, o coleccionismo apresenta algumas semelhanças com a Arqueologia, na medida em que, tal como esta, procura “desenterrar” o passado, dando a conhecer no presente, objectos, documentos e factos que pareciam perdidos ou esquecidos para sempre.

Tal como a filatelia e a numismática, a vitolfília assume um papel relevante no coleccionismo. Cinta a cinta, com paciência e amor, se vão fazendo as colecções. No início, com peças simples e vulgares, depois, as mais clássicas. Umas e outras ocupando o seu espaço temático.

O interesse pelas cintas de charuto (vitolas) consideradas clássicas, as “jóias da vitolfília”, provoca no coleccionador o desafio pela propriedade de um “tesouro” documental. A antiguidade e raridade das cintas (vitolas), unidas ao valor estético, onde sobressaem temáticas que reproduzem personagens importantes da história dos
países, na política, na economia e nas artes, proporcionam ao coleccionador todo um
arco-íris de dourados e relevos e representam verdadeiras obras de arte litográficas.

Assim entendido, o coleccionismo de cintas de charuto (vitolfília) assumindo o papel
histórico, cultural, científico e recreativo, favorece e desperta a investigação, num cenário intemporal de factos universais.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Voltando ao Brasil

O reinado do charuto no Brasil começou no princípio do século XIX. Nessa época, chegou a haver registo de 300 fábricas, embora a maioria fosse de fabrico artesanal e familiar.

Na Bahia, em 1851, surgiram as duas primeiras grandes fábricas de charutos, a Costa Ferreira & Penna, mais tarde Costa Penna & Cia, e a Vieira de Mello. Com a chegada de tabaqueiros alemães, seguiram-se as fábricas Dannemann, Suerdieck, Poock e Stender, que constituíram verdadeiros impérios.

Já no século XX, o aumento da produção de charutos, no Recôncavo baiano, verificou-se principalmente com a chegada ao Brasil da família cubana Menendez, que se estabeleceu em São Gonçalo dos Campos. Os Menendez, que antes da estadização cubana eram proprietários dos famosos charutos Montecristo e H. Upmann, emigraram para as Ilhas Canárias e daqui para o Brasil, associando-se ao comerciante baiano Mário Amerino Portugal, constituindo a empresa Menendez & Amerino.

Hoje, algumas cidades se destacam na produção de “puros” baianos. Alagoinhas é a sede da Chaba, Charutos da Bahia; na Cachoeira estão as fábricas Paraguaçu e Talvis/Leite e Alves; em Cruz das Almas, Angelina Tabacos Ltda, Damatta, Julien Bahia, Josefina Tabacos do Brasil, LeCigar Ltda, Luís C. Sandes, Manufatura de Charutos São Salvador, Puros do Brasil, Tabacos Mata Fina, Tobajara, San Francisco Charutos; em São Félix, a Companhia de Charutos Dannemann e em São Gonçalo dos Campos a Menendez & Amerino.

Há charutos que só são conhecidos em um ou dois estados brasileiros, ficando de fora dos grandes centros consumidores. Muitos desses charutos não são encontrados nas tabacarias, mas vendidos em lojas de “souvenir”, hotéis, restaurantes e bares.

A venda de charutos para as tabacarias sem a identificação do fabricante tem vindo a crescer. Há charutos no mercado sem nenhuma cinta, são os chamados genéricos ou mesmo com uma cinta da tabacaria que os vende, denominados “charutos da casa”.