sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sótão de curiosidades charuteiras

»Em 1586, o Rei Filipe II de Espanha ordenou que as folhas de tabaco fossem queimadas por serem prejudiciais ao corpo e ao espírito e por contrariarem regras da cristandade, impostas pela igreja e controladas pela Inquisição.

» No início do século XVII, o tabaco era fumado apenas em cachimbo nas colónias americanas. O charuto propriamente dito só apareceu em 1762, quando o general Israel Putnam trouxe os primeiros charutos de Cuba e sementes da planta para os Estados Unidos.

» Em meados do séc. XVIII, em especial em França e Inglaterra, o hábito de fumar charutos espalhou-se entre os cavalheiros de tal modo que, nos comboios, existiam carruagens próprias para degustar charutos.

» Na altura da guerra civil americana (1861-1865), o hábito de fumar charuto divulgou-se imenso em todo o país. Depois das reduções de impostos na década de 1870, os charutos começaram a encontrar-se com mais facilidade e a produção doméstica aumentou. Em finais do séc. XIX e de modo análogo ao que se passou na Europa , o charuto tornou-se símbolo de estatuto superior.
» No séc. XIX, em França, surgiu a necessidade de uma roupa própria para protecção do odor do fumo dos charutos. Criou-se então o “Smoking Jacket ou jaqueta de fumar com a aparência de um “robe de chambre”, normalmente feito de veludo, caxemira ou seda, de cores brilhantes e ornamentado com grandes botões. As lapelas eram largas, combinando com uma faixa do mesmo tecido em volta das mangas. Uma camisa social branca era usada por baixo, sempre com uma gravata borboleta ou “écharpe”. A calça era sempre preta, azul-marinho ou cinza-escura com sapatos de amarrar ou enfiar, pretos, ou chinelos persas de seda.


Em 1845, Don Jaime Partagas deu o seu nome a uma nova marca de Havanos. Era um homem apaixonado pela beleza feminina. Dono de vegas em Vuelta Abajo, visitava frequentemente as suas plantações, não só com o fim de seguir os progressos, mas também na tentativa de desfrutar de alguns romances. Amores, ciúmes e vingança estão relacionados com o assassinato de Don Jaime, encontrado morto numa manhã, envolto em misteriosas circunstâncias, numa das suas vegas.

» Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o lucro dos postais vendido pela Cruz Vermelha permitia que fossem mandados charutos aos soldados em combate.

» O fumador de charutos mais conhecido foi Winston Churchill (1874-1965), de quem se diz ter fumado 250000 charutos. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por ocasião dos ataques aéreos a Londres pelos alemães, o fornecedor de charutos Alfred Dunhill, através do seu gerente, telefonou a Churchill para lhe garantir que os seus charutos não tinham sido atingidos.

»“Os deuses inventaram o charuto para desfrutar do prazer especial do sabor do tabaco. De cada vez que se vislumbra um relâmpago e soa um trovão, os deuses estão a fazer fogo para acender um charuto”. In Civilização Maia (México)
» O maior charuto do mundo foi fabricado pela indústria tabaqueira Pedro Capote (Espanha); exibido na feira Oficial e Internacional de Amostras de Barcelona, pesava cento e um quilogramas e media três metros e vinte centímetros.

Os charutos e as mulheres

Ao longo dos tempos, tem sido significativo o número de mulheres fumadoras de charutos. Já no século
XVIII, Catarina II, imperatriz da Rússia, era fumadora de charutos (aliás, é-lhe atribuída a invenção da cinta de charuto, para evitar manchar os dedos), pelo que não é novidade o facto das mulheres, hoje, fumarem charutos.

O que acontece é um certo sigilo, alguma privacidade do acto de fumar, remetendo para círculos mais restritos ou mesmo terapia de grupo
a degustação de charutos. Não se trata de uma conquista feminina do “status” social, nem uma equiparação ao hábito masculino, mas tão somente a liberdade, inerente à sua condição humana.

A sociedade ainda reflecte preconceitos no que diz respeito à prática pública das mulheres fumadoras, especialmente de charutos.


Fumar um charuto pode representar uma atitude sexy, onde o prazer se confunde com o vício. Muitas fumadoras de charutos, movendo-se em círculos artísticos ou boémios, quebrando as grilhetas do parece mal ou não é feminino, têm desafiado as regras sociais.

A aparência fálica do charuto serve
para testemunhar a virilidade ou a feminilidade do desejo de reconhecimento dos outros. Há quem defenda que a imagem do charuto está associada ao poder e ao estatuto das colunáveis. Privilégio ou não de certo extracto social, certo é que a classe média já tomou de assalto essas trincheiras.

Entre tantas fumadoras de charutos, muitas escondidas no anonimato, contam-se os nomes das actrizes Marlene Dietrich, Greta Garbo, Jodi Foster, Mae West, Leslie Caron, Demi Moore, Woopi Goldberg, das escritoras George Sand, Colette, das cantoras Fafá de Belém, Madona e da modelo Linda Evangelista.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fragmentos da história da indústria de charutos

As características do solo e o microclima terão contribuído para que a ilha de Cuba ocupasse o primeiro lugar no podium dos fabricantes de charutos, desde o século XIX. Todavia, dois momentos históricos na ilha são os responsáveis pelo desenvolvimento da indústria tabaqueira, em especial a produção de charutos, noutros países da América Central. Caso da República Dominicana, Honduras, Nicarágua e Jamaica e também Estados Unidos e Brasil.

Refiro-me ao fim da colonização espanhola, em 1898, e à revolução de Fidel Castro, em 1959, esta ultima com a nacionalização das fábricas de tabaco.

Dessa rotura social, resultou a emigração de famílias de charuteiros cubanos e a consequente instalação de fábricas nesses países.

A República Dominicana possui um clima quente favorável ao cultivo de tabaco para charutos. A maioria das fábricas encontra-se em Santiago e no vale do Cibao. Estas plantações estão referenciadas desde o início do século XVII, mas é a partir dos anos sessenta do século XX que se dá o “boom” de charutos de grande qualidade.

Refira-se as marcas actualmente produzidas na ilha: A. Fuente, Macanudo, La Aurora. Ashton, Avo, Davidoff, La Glória Cubana, Cuesta Rey.

Na Nicarágua, a maior parte da população trabalha na agricultura que inclui a cultura do tabaco. São quatro as regiões privilegiadas para a cultura do fumo: Jalapa, Esteli, Condega e Ometempe. Entre os melhores charutos estão os Tatuaje, Don Pepin, Oliva, Padron e Perdomo.

A República das Honduras caracteriza-se por ser uma região pantanosa de clima tropical. As plantações de tabaco e o fabrico de charutos têm-se tornado muito importantes, especialmente a partir de 1960, com a chegada de emigrantes cubanos. De notar que algumas marcas de charutos hondurenhos têm nomes iguais as marcas cubanas: El Rey del Mundo, Hoyo de Monterrey e Punch. Uma gama de charutos feitos à mão inclui as marcas como Don Tomás, Don Ramos, Escalibur, Zino, Bances e CAO.

A Jamaica é um país montanhoso com clima tropical marítimo. O fabrico de charutos na ilha vem desde o século XIX, altura em que emigrantes cubanos aportaram à ilha e instalaram fabricas em Kingston. As marcas de charutos mais conhecidas são Os Macanudo, Temple Hall e Royal Jamaica.