Após a leitura do livro Holy Smoke (Fumo
Sagrado) do escritor cubano Guillermo
Cabrera Infante (1929-2005), cotejei
algumas ideias e pensamentos. A
obra é uma celebração do tabaco, da arte de fumar e da relação entre o charuto,
o cigarro e o cachimbo. Também são evocados os grandes fumadores da história, as
histórias ligadas ao prazer do fumo, em jeito de narrativa, através da
literatura e da arte cinematográfica.
“Um bom fumador como um bom amante
dispensa sempre bastante tempo ao seu charuto. Por isso deve fumar-se sempre em
casa e nunca se deve levar o charuto a passear. Os charutos são como os gatos:
feitos para o lar, degustando-os numa cómoda poltrona no inverno, diante de uma
lareira acolhedora e no verão, junto a uma janela aberta.”
Os charutos feitos à mão estão para os
feitos à máquina aquilo que os livros de capa dura são para os livros de capa
mole. O fumo pode ser o mesmo, mas mais bem-feitos. Um charuto feito à mão é
uma arte e ainda que não tenha sido feito para cada um de nós, parece que foi.
Em “Citizen Kane”, (O Mundo a Seus Pés) dá-se
apoteose da história de amor entre um homem que corteja o seu tabaco como uma
noiva, até a cinta de charuto funciona muitas vezes como um anel de noivado.
O alquimista islâmico Abu Musa Jabir ibn
Hayyan, cujo nome latino é Geber (721-815), sugeriu que o fumo simboliza a alma
a abandonar o corpo. Sacha Guitry (1885-1957) recomendava que as cinzas do
charuto fossem guardadas na palma da mão antes de serem depositadas, já frias,
nas profundezas do cinzeiro.
Os charutos grandes assentam bem nos
homens pequenos, enquanto os cigarros são para os homens altos e o cachimbo é
associado a homens medianos, de meia idade e de classe social média.
“Os cigarros são o oposto pervertido dos
charutos; os charutos são compridos, os cigarros curtos; os charutos são
escuros, os cigarros brancos; os charutos são grossos, os cigarros finos; os
charutos têm um cheiro forte, os cigarros são perfumados; os cigarros são para
os lábios, os charutos para a boca e para os dentes; os cigarros não se apagam,
mas extinguem-se rapidamente, enquanto que os charutos parecem viver para
sempre; os charutos são brutamontes, os cigarros são tão femininos como as
jóias; os cigarros fumam-se sem parar, os charutos devem ser fumados em
intervalos regulares, com todo o ócio do mundo. Os cigarros são para o
instante, os charutos para a eternidade.”