domingo, 26 de fevereiro de 2017

A PINTURA IN VITOLFILIA

Muitas são as temáticas abordadas e desenvolvidas in vitolfilia. Durante algumas décadas do século XX, várias fábricas europeias emitiram séries de cintas de charutos para identificar os seus “puros”, em especial as oriundas de Espanha, Bélgica, Holanda e Alemanha.

Ou fosse para aumentar as vendas dos charutos, através de uma técnica de marketing ou fosse pela historia económica, científica, artística e desportiva, certo é que contribuíram para divulgar a cultura. As denominadas séries, cada uma composta com um número variável de cintas, desenvolviam os temas em causa, através de uma abordagem diversificada: a fauna, a flora, o desporto, os monumentos, os transportes e os retratos de políticos, músicos, pintores, escultores e casas reais europeias.

A história da pintura começa nos tempos pré-históricos e passa junto de todas as culturas até aos nossos dias e vai desde a Pintura Rupestre até à Idade Contemporânea. Milhares dessas representações artísticas perpassam por diferentes períodos da história, documentando atos quotidianos, mitológicos, religiosos.   

A temática da pintura in vitolfilia foi amplamente divulgada não só pelos retratos dos pintores, mas especialmente pelos seus quadros dos períodos da Idade Média, Renascimento, Barroco e Modernismo (Séculos XVIII e XIX). Os quadros de Rembrandt, Frans Hals, Velazquez, Renoir, Goya, Van Gogh, Monet, Picasso e Rubens, entre outros, foram reproduzidos nas cintas de charuto.      


Uma referência para as marcas espanholas Alvaro e Reig, que focaram apenas os quadros dos pintores espanhóis Alonso Cano, Berruguete, Goya, El Greco, Murillo, Ribera, Valdés Leal, Velazquez, Vicente Lopez e Zurbaran e para a marca holandesa Washington que reproduz a História da Pintura.

terça-feira, 26 de julho de 2016

CINTAS DE CHARUTOS (VITOLAS): LENDA E HISTÓRIA

A essência do colecionismo de cintas de charutos (vitolfilia) é a cinta de charuto, ela própria de corpo e alma, verdadeiro ex-libris do charuto. Com o desenvolvimento da litografia, cuja invenção se deve ao checo Johann Alois Senefelder (1771-1834), foi aberto o caminho para embelezar e identificar os rótulos das caixas de charutos e os charutos. A cinta de charuto tem a sua mitologia própria.  

Sobre a lenda, diz-se que os primeiros fumadores de charutos europeus foram os dândis ingleses. Estes, apercebendo-se que as suas impecáveis luvas ficavam manchadas com a nicotina dos seus charutos, pediram aos seus criados de quarto que introduzissem um anel de papel à volta de cada charuto e o colocassem perto da extremidade do charuto que metiam na boca, a fim de evitar que as suas preciosas luvas ficassem tingidas com a fuga dos fluidos da nicotina.

Uma outra interpretação da lenda, descrita no livro All The Best in Cuba, de Sydney Clark (1890-1975), refere que as cintas de charutos têm, curiosamente, uma origem feminina já que foram confecionadas pela primeira vez em Havana, não para servir de adorno ou identificar o charuto, mas para permitir que os delicados dedos das damas espanholas da alta sociedade  não estivessem expostos ao contacto com a folha de tabaco, sempre que fumassem charutos.
Sobre a história, diz-se que o produtor cubano, de origem holandesa, estabelecido em Havana, de seu nome Gustave Antoine Bock (1837-1911), queria que os seus charutos se distinguissem dos outros, mesmo quando fora da caixa de charutos, criou a cinta que devia ser colocada ao redor de cada charuto.

Bock, quando inventou a cinta, nunca teria certamente imaginado que estava a criar um precioso anel de noivado entre o fumador e o seu charuto.
IN MEMORIAM

Na segunda metade do século XX, as fábricas de charutos espanholas, belgas, holandesas e alemãs produziram muitas séries de cintas de charutos (vitolas) para identificarem os seus charutos. A temática, diversificada, abordava figuras e factos da história mundial, a fauna e a flora, o desporto, os transportes, a pintura e a escultura, as paisagens e as bandeiras, entre outros.  

A marca holandesa Washington desenvolveu aspetos da história dos Estados Unidos da América em diversas series, com um número variável de cintas por serie, em vários formatos. A pequena série de três cintas em quatro cores, IN MEMORIAM, reproduz os retratos de J.F. Kennedy, Martin Luther King  e Robert Kennedy, personagens americanas assassinadas na década de sessenta do século XX.

John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) – Foi o 35º Presidente dos Estados Unidos (1961-1963) e é considerado uma das personagens relevante do século XX. Eleito em 1960, tornou-se o segundo mais jovem presidente depois de Theodore Roosevelt. Morreu assassinado a 22 de novembro de 1963 em Dallas (Texas). O ex-fusileiro naval Lee Harvey Oswald foi preso e acusado do assassinato, mas foi morto por Jack Ruby e por isso não foi julgado.

Martin Luther King Jr. (1929-1968). Foi um pastor protestante e ativista político. Tornou-se num dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos com uma campanha de não-violência e de amor ao próximo. Os seus esforços levaram-no à Marcha sobre Washington em 1963, onde fez o seu discurso “I have a dream”. Foi assassinado em Memphis em abril de 1968 por James Earl Rey.


Robert Francis Kennedy (1925-1968). Um dos irmãos mais novos de John Kennedy. Foi Procurador-geral e Senador dos Estados Unidos, tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia. À data do seu assassinato, em 5 de junho de 1968, comemorava os resultados das eleições dos democratas, no Ambassador Hotel de los Angeles.          


domingo, 13 de dezembro de 2015

HISTÓRIA ROMANA REVISITADA

A história de Roma está envolta em lendas. Segundo o poeta romano Virgílio (70-19 a.C.), os romanos descendem de Eneias, o herói troiano que fugiu para Itália, após a destruição de Troia pelos gregos. Rómulo e Remo são, segundo a mitologia romana, dois irmãos gémeos, filhos de Marte e de Reia Sílvia, descendente de Eneias. Os gémeos Rómulo e Remo receberam a missão de fundar Roma (753 a.C.). Rómulo, depois de assassinar o seu irmão, tornou-se no primeiro rei. A Monarquia Romana foi o período da antiga civilização (753-509 a.C.), governada ao longo da história por sete reis, cuja sociedade era formada basicamente pelas classes de Patrícios, Plebeus, Clientes e Escravos.

 A República Romana (509-27 a.C.), constituída a partir de uma revolta dos Patrícios, tirou o poder à monarquia romana etrusca. A sua organização política estava baseada num consulado, composto por dois cônsules, que desempenhavam as funções de chefes de estado.

Caio Júlio César (101-44 a.C.), estadista, general e escritor romano, considerado descendente de Eneias, formou com Crasso e Pompeu o primeiro triunvirato. Cônsul em 59, chama a si o governo das Gálias e da Ilíria. No decurso dos nove anos seguintes, conquista toda a Gália e faz frente aos belgas, helvécios, germanos e bretões.

A Republica encontrava-se numa situação de elevada instabilidade, na sequência de diversas guerras civis e conflitos políticos, durante os quais Júlio César foi ditador. Em 44, é assassinado em pleno Senado, por uma conjura republicana, chefiada por Marcus Brutus e Caio Cássio.

Esta fase da história vai até ao estabelecimento do Império Romano (27 a.C-476 d.C.). Este período da antiga civilização romana, caraterizado por um governo autocrático, governado por um imperador, foi governado por várias dinastias, sendo a primeira de Julius e Claudius.

Nero Cláudio César Augusto Germânico (37-68 d.C.), nascido com o nome de Lúcio Domicio  Enobarbo, era descendente de uma das principais famílias romanas. Ascendeu ao trono após a morte de seu tio Claudius, que o nomeou seu sucessor. O seu reinado é habitualmente associado à tirania e às extravagâncias. É recordado por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe e a do seu meio-irmão, Britânico. Foi um implacável perseguidor dos cristãos.
   
O Fórum Romano foi durante séculos o centro da vida pública romana, local das cerimónias triunfais e de eleições, local dos confrontos entre gladiadores e o centro de assuntos comerciais.

domingo, 15 de novembro de 2015

MEMÓRIAS DE UMA CINTA DE CHARUTO

Branco foi meu nascimento e das cores do arco-íris me vestiram para identificar um charuto. Representei uma casa de família e fui retrato de personagens mundiais. Durante a minha função, abracei, como se fosse um anel de noivado, um robusto charuto. Estava desempenhando o meu papel quando senti o calor incandescente das folhas que ardiam silenciosamente, comprimidas, até que fui salva pelas mãos do fumador. Nuvens de fumo envolviam o espaço, criando um compromisso entre o sonho e a realidade, despertando prazeres voluptuosos entre o fumante e os outros. 
Agora, já na idade de reforma, alojada num classificador, gozo pacientemente o merecido repouso. Convivo com outras cintas, de países e fábricas diferentes, e, apesar das diferenças, em particular a linguagem, somos iguais. Depois de uma vida curta no desempenho, com profissionalismo, do trabalho que me foi confiado, vivo numa expetativa excitante de ser objeto de troca com outras cintas, viajar para outro lugar, conhecer outras cintas e outros colecionadores. 


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

OLHARES



Haverá certamente cintas de charuto, prisioneiras em gavetas, em caixas de sapatos, outras adormecidas coladas em folhas de papel, envelhecidas pela poeira do tempo, outras ainda esquecidas ou abandonadas até que a memória as descubra ou algum intruso as encontre.

Privadas da sua função, identificar e embelezar os charutos, algumas vivem na esperança dum lugar de honra no colecionismo, quiçá em participar num concurso de beleza. No entretanto, mantêm uma relação de namoro constante com o seu possuidor.

À falta de novas cintas, futuras companheiras e missionárias, as cintas que já ocupam lugar privilegiado nos classificadores, vão beneficiando dos olhares constantes de quem as protege e as admira, o colecionador.

Na descoberta da origem das cintas clássicas, reside a sua identidade, caraterizada pela antiguidade, raridade, origem, estado de conservação e traços anatómicos. Mas apesar de serem as mais procuradas e valiosas, convivem lado a lado com as mais modestas, sem preconceitos, independentemente da sua filiação e nacionalidade.

Todas são importantes na perspetiva de quem as coleciona, catalogadas numa variedade de temas, entre os quais os retratos de personagens mundiais, fauna, flora, desporto, brasões, bandeiras e barcos.

As séries marcaram uma época. Ab initio, meados do século XX, focando reis, imperadores, políticos, militares, presidentes; mais tarde, desabou uma tempestade folclórica de temáticas diversas, saídas das “maternidades” espanholas, holandesas, belgas, alemãs. Hoje, as séries estão praticamente em vias de extinção. As empresas tabaqueiras deixaram cair a sua impressão litográfica ou por falta de novos temas ou, o mais provável, por razões financeiras.       

sábado, 30 de maio de 2015

IN ILLO TEMPORE


Não sou fumador ativo, mas na adolescência fui atraído pela degustação do tabaco, uma atitude que transforma os rapazes em homens. À falta da nicotiana tabacum, também serviram, nessa época, as barbas de milho. Dos cigarros ao cachimbo foram experiências. Mais tarde, os charutos, namorei-os e um ou outro lá fui degustando em dias ou noites de festa. As cintas de charuto foram um amor à primeira vista e há décadas que as vou colecionando.
O colecionismo em geral, refiro-me à filatelia, à numismática, à vitolfilia, ao filumenismo, à glucofilia, aos postais ilustrados, porta-chaves, pins, cromos, etc., parece ser uma coisa de velhos, os jovens têm outros voos. Primeiro é preciso gostar de aprender e aprender a gostar, depois é partir para a descoberta, pesquisa e catalogação. É o encontro com a história, a (re)descoberta de aspetos desperdiçados ou ignorados. Aberto o caminho para o (re)conhecimento do material no universo histórico, paralelamente torna-se relevante a relação humana dos contatos com outros colecionadores.
 
O tabaco, de uma maneira geral, tem servido para muitas coisas. In illo tempore, os Astecas consideravam que o sumo do tabaco era um antídoto contra o veneno das cobras e os Maias atribuíam-lhe poderes milagrosos. Parece, pois, que o uso do tabaco começou com fins medicinais. No primeiro milénio a C.,os indígenas da américa central usavam a planta em rituais religiosos e mágicos, como forma de purificar, fortalecer e proteger os guerreiros das tribos. No século XVII, o cientista alemão Johan Neander (1585-1650) publicou estudos sobre os efeitos terapêuticos do tabaco, considerando a sua utilização benéfica para a cura de vários males.  


Em rapé (cheirado ou mascado) e fumado, o tabaco passou por diversas vicissitudes. Em relação aos fumantes, Filipe II de Espanha (1527-1598) ordenou, em documento oficial, que a folha de tabaco fosse queimada em público como erva prejudicial e danosa. Jean NIcot (1530-1600), embaixador francês em Portugal, enviou a Catarina de Medici algumas sementes de tabaco da América para serem plantadas, cultivadas e usadas como remédio para gargarejo e vomitório e recomendou o tabaco como uma coisa boa para fazer inalações e servir de dentífrico.  
Passados vários séculos desde que os marinheiros de Cristóvão Colombo, Luiz de Torres e Rodrigo de Jerez, descobriram a planta de tabaco, fumado pelos homens-chaminés, na América, que a planta tem proporcionado muito trabalho e dinheiro.
Existe uma vasta bibliografia sobre o tabaco. Relativamente às obras literárias, saliento Fumo Sagrado, do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), Bahia – Terra de Todos os Charutos, um retrato das empresas brasileiras, de Hugo Carvalho e O Tabaco e o Poder, da escritora portuguesa Maria Filomena Mónica. Relativamente às teses de mestrado, cito Versos, Cinzas e Havanas: um estudo sobre o charuto no romantismo brasileiro, de Raquel Ripari Neger e As Charuteiras  do Recôncavo Baiano, de Elisabete Rodrigues da Silva.