Não sou fumador ativo, mas na adolescência fui atraído pela
degustação do tabaco, uma atitude que transforma os rapazes em homens. À falta
da nicotiana tabacum, também serviram, nessa época, as barbas de milho. Dos
cigarros ao cachimbo foram experiências. Mais tarde, os charutos, namorei-os e
um ou outro lá fui degustando em dias ou noites de festa. As cintas de charuto
foram um amor à primeira vista e há décadas que as vou colecionando.
O colecionismo em geral, refiro-me à filatelia, à
numismática, à vitolfilia, ao filumenismo, à glucofilia, aos postais
ilustrados, porta-chaves, pins, cromos, etc., parece ser uma coisa de velhos,
os jovens têm outros voos. Primeiro é preciso gostar de aprender e aprender a
gostar, depois é partir para a descoberta, pesquisa e catalogação. É o encontro
com a história, a (re)descoberta de aspetos desperdiçados ou ignorados. Aberto
o caminho para o (re)conhecimento do material no universo histórico,
paralelamente torna-se relevante a relação humana dos contatos com outros
colecionadores.
O tabaco, de uma maneira geral, tem servido para muitas
coisas. In illo tempore, os Astecas consideravam que o sumo do tabaco era um
antídoto contra o veneno das cobras e os Maias atribuíam-lhe poderes
milagrosos. Parece, pois, que o uso do tabaco começou com fins medicinais. No
primeiro milénio a C.,os indígenas da américa central usavam a planta em
rituais religiosos e mágicos, como forma de purificar, fortalecer e proteger os
guerreiros das tribos. No século XVII, o cientista alemão Johan Neander
(1585-1650) publicou estudos sobre os efeitos terapêuticos do tabaco,
considerando a sua utilização benéfica para a cura de vários males.
Em rapé (cheirado ou mascado) e fumado, o tabaco passou por
diversas vicissitudes. Em relação aos fumantes, Filipe II de Espanha
(1527-1598) ordenou, em documento oficial, que a folha de tabaco fosse queimada
em público como erva prejudicial e danosa. Jean NIcot (1530-1600), embaixador
francês em Portugal, enviou a Catarina de Medici algumas sementes de tabaco da América
para serem plantadas, cultivadas e usadas como remédio para gargarejo e
vomitório e recomendou o tabaco como uma coisa boa para fazer inalações e
servir de dentífrico.
Passados vários séculos desde que os marinheiros de Cristóvão
Colombo, Luiz de Torres e Rodrigo de Jerez, descobriram a planta de tabaco,
fumado pelos homens-chaminés, na América, que a planta tem proporcionado muito
trabalho e dinheiro.
Existe uma vasta bibliografia sobre o tabaco. Relativamente
às obras literárias, saliento Fumo
Sagrado, do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), Bahia – Terra de Todos os Charutos, um
retrato das empresas brasileiras, de Hugo Carvalho e O Tabaco e o Poder, da escritora portuguesa Maria Filomena Mónica.
Relativamente às teses de mestrado, cito Versos,
Cinzas e Havanas: um estudo sobre o charuto no romantismo brasileiro, de
Raquel Ripari Neger e As
Charuteiras do Recôncavo Baiano, de
Elisabete Rodrigues da Silva.
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