domingo, 13 de dezembro de 2015

HISTÓRIA ROMANA REVISITADA

A história de Roma está envolta em lendas. Segundo o poeta romano Virgílio (70-19 a.C.), os romanos descendem de Eneias, o herói troiano que fugiu para Itália, após a destruição de Troia pelos gregos. Rómulo e Remo são, segundo a mitologia romana, dois irmãos gémeos, filhos de Marte e de Reia Sílvia, descendente de Eneias. Os gémeos Rómulo e Remo receberam a missão de fundar Roma (753 a.C.). Rómulo, depois de assassinar o seu irmão, tornou-se no primeiro rei. A Monarquia Romana foi o período da antiga civilização (753-509 a.C.), governada ao longo da história por sete reis, cuja sociedade era formada basicamente pelas classes de Patrícios, Plebeus, Clientes e Escravos.

 A República Romana (509-27 a.C.), constituída a partir de uma revolta dos Patrícios, tirou o poder à monarquia romana etrusca. A sua organização política estava baseada num consulado, composto por dois cônsules, que desempenhavam as funções de chefes de estado.

Caio Júlio César (101-44 a.C.), estadista, general e escritor romano, considerado descendente de Eneias, formou com Crasso e Pompeu o primeiro triunvirato. Cônsul em 59, chama a si o governo das Gálias e da Ilíria. No decurso dos nove anos seguintes, conquista toda a Gália e faz frente aos belgas, helvécios, germanos e bretões.

A Republica encontrava-se numa situação de elevada instabilidade, na sequência de diversas guerras civis e conflitos políticos, durante os quais Júlio César foi ditador. Em 44, é assassinado em pleno Senado, por uma conjura republicana, chefiada por Marcus Brutus e Caio Cássio.

Esta fase da história vai até ao estabelecimento do Império Romano (27 a.C-476 d.C.). Este período da antiga civilização romana, caraterizado por um governo autocrático, governado por um imperador, foi governado por várias dinastias, sendo a primeira de Julius e Claudius.

Nero Cláudio César Augusto Germânico (37-68 d.C.), nascido com o nome de Lúcio Domicio  Enobarbo, era descendente de uma das principais famílias romanas. Ascendeu ao trono após a morte de seu tio Claudius, que o nomeou seu sucessor. O seu reinado é habitualmente associado à tirania e às extravagâncias. É recordado por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe e a do seu meio-irmão, Britânico. Foi um implacável perseguidor dos cristãos.
   
O Fórum Romano foi durante séculos o centro da vida pública romana, local das cerimónias triunfais e de eleições, local dos confrontos entre gladiadores e o centro de assuntos comerciais.

domingo, 15 de novembro de 2015

MEMÓRIAS DE UMA CINTA DE CHARUTO

Branco foi meu nascimento e das cores do arco-íris me vestiram para identificar um charuto. Representei uma casa de família e fui retrato de personagens mundiais. Durante a minha função, abracei, como se fosse um anel de noivado, um robusto charuto. Estava desempenhando o meu papel quando senti o calor incandescente das folhas que ardiam silenciosamente, comprimidas, até que fui salva pelas mãos do fumador. Nuvens de fumo envolviam o espaço, criando um compromisso entre o sonho e a realidade, despertando prazeres voluptuosos entre o fumante e os outros. 
Agora, já na idade de reforma, alojada num classificador, gozo pacientemente o merecido repouso. Convivo com outras cintas, de países e fábricas diferentes, e, apesar das diferenças, em particular a linguagem, somos iguais. Depois de uma vida curta no desempenho, com profissionalismo, do trabalho que me foi confiado, vivo numa expetativa excitante de ser objeto de troca com outras cintas, viajar para outro lugar, conhecer outras cintas e outros colecionadores. 


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

OLHARES



Haverá certamente cintas de charuto, prisioneiras em gavetas, em caixas de sapatos, outras adormecidas coladas em folhas de papel, envelhecidas pela poeira do tempo, outras ainda esquecidas ou abandonadas até que a memória as descubra ou algum intruso as encontre.

Privadas da sua função, identificar e embelezar os charutos, algumas vivem na esperança dum lugar de honra no colecionismo, quiçá em participar num concurso de beleza. No entretanto, mantêm uma relação de namoro constante com o seu possuidor.

À falta de novas cintas, futuras companheiras e missionárias, as cintas que já ocupam lugar privilegiado nos classificadores, vão beneficiando dos olhares constantes de quem as protege e as admira, o colecionador.

Na descoberta da origem das cintas clássicas, reside a sua identidade, caraterizada pela antiguidade, raridade, origem, estado de conservação e traços anatómicos. Mas apesar de serem as mais procuradas e valiosas, convivem lado a lado com as mais modestas, sem preconceitos, independentemente da sua filiação e nacionalidade.

Todas são importantes na perspetiva de quem as coleciona, catalogadas numa variedade de temas, entre os quais os retratos de personagens mundiais, fauna, flora, desporto, brasões, bandeiras e barcos.

As séries marcaram uma época. Ab initio, meados do século XX, focando reis, imperadores, políticos, militares, presidentes; mais tarde, desabou uma tempestade folclórica de temáticas diversas, saídas das “maternidades” espanholas, holandesas, belgas, alemãs. Hoje, as séries estão praticamente em vias de extinção. As empresas tabaqueiras deixaram cair a sua impressão litográfica ou por falta de novos temas ou, o mais provável, por razões financeiras.       

sábado, 30 de maio de 2015

IN ILLO TEMPORE


Não sou fumador ativo, mas na adolescência fui atraído pela degustação do tabaco, uma atitude que transforma os rapazes em homens. À falta da nicotiana tabacum, também serviram, nessa época, as barbas de milho. Dos cigarros ao cachimbo foram experiências. Mais tarde, os charutos, namorei-os e um ou outro lá fui degustando em dias ou noites de festa. As cintas de charuto foram um amor à primeira vista e há décadas que as vou colecionando.
O colecionismo em geral, refiro-me à filatelia, à numismática, à vitolfilia, ao filumenismo, à glucofilia, aos postais ilustrados, porta-chaves, pins, cromos, etc., parece ser uma coisa de velhos, os jovens têm outros voos. Primeiro é preciso gostar de aprender e aprender a gostar, depois é partir para a descoberta, pesquisa e catalogação. É o encontro com a história, a (re)descoberta de aspetos desperdiçados ou ignorados. Aberto o caminho para o (re)conhecimento do material no universo histórico, paralelamente torna-se relevante a relação humana dos contatos com outros colecionadores.
 
O tabaco, de uma maneira geral, tem servido para muitas coisas. In illo tempore, os Astecas consideravam que o sumo do tabaco era um antídoto contra o veneno das cobras e os Maias atribuíam-lhe poderes milagrosos. Parece, pois, que o uso do tabaco começou com fins medicinais. No primeiro milénio a C.,os indígenas da américa central usavam a planta em rituais religiosos e mágicos, como forma de purificar, fortalecer e proteger os guerreiros das tribos. No século XVII, o cientista alemão Johan Neander (1585-1650) publicou estudos sobre os efeitos terapêuticos do tabaco, considerando a sua utilização benéfica para a cura de vários males.  


Em rapé (cheirado ou mascado) e fumado, o tabaco passou por diversas vicissitudes. Em relação aos fumantes, Filipe II de Espanha (1527-1598) ordenou, em documento oficial, que a folha de tabaco fosse queimada em público como erva prejudicial e danosa. Jean NIcot (1530-1600), embaixador francês em Portugal, enviou a Catarina de Medici algumas sementes de tabaco da América para serem plantadas, cultivadas e usadas como remédio para gargarejo e vomitório e recomendou o tabaco como uma coisa boa para fazer inalações e servir de dentífrico.  
Passados vários séculos desde que os marinheiros de Cristóvão Colombo, Luiz de Torres e Rodrigo de Jerez, descobriram a planta de tabaco, fumado pelos homens-chaminés, na América, que a planta tem proporcionado muito trabalho e dinheiro.
Existe uma vasta bibliografia sobre o tabaco. Relativamente às obras literárias, saliento Fumo Sagrado, do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), Bahia – Terra de Todos os Charutos, um retrato das empresas brasileiras, de Hugo Carvalho e O Tabaco e o Poder, da escritora portuguesa Maria Filomena Mónica. Relativamente às teses de mestrado, cito Versos, Cinzas e Havanas: um estudo sobre o charuto no romantismo brasileiro, de Raquel Ripari Neger e As Charuteiras  do Recôncavo Baiano, de Elisabete Rodrigues da Silva.

sábado, 7 de março de 2015

APANHADA DO CHÃO

Sentado numa esplanada, desfrutando os raios de sol de inverno, vislumbrei um fumador de charutos, que acompanhado degustava, com prazer, um belo charuto. Claro que o que me atraiu não foi a linguagem do charuto nem o seu cheiro. Naquele corpo, roliço, feito de tabaco, cujo fumo envolvia o ambiente, o que despertou a minha atenção foi a cinta de charuto.

Envolvendo a peça, a cinta, indiferente à aproximação do fogo, parecia esperar o momento oportuno par fugir àquele incêndio. Assim pensei.

Iniciei então uma caminhada para baixo e para cima, esperando que a cinta fosse salva. Na última passagem, tendo perdido de vista o espaço, fui surpreendido com o desaparecimento do fumador e do charuto. A tristeza invadiu o meu rosto pela perda da oportunidade em deitar mão àquela cinta. Aproximei-me da mesa, palco e cenário da tragédia e, olhando atentamente para o chão, uma luz iluminou a cinta que jazia. Aproximei-me e recolhia-a. Era um Bolivar, fotografia do general sul-americano, protagonista das guerras de independência das colónias espanholas da América do Sul.

Tinha salvo a cinta de charuto e o meu dia.