O fabrico de charutos constitui-se como uma das principais
indústrias cubanas desde o século XVII. Nas fábricas de charutos de Cuba, para
além da manufatura de charutos, desenvolveu-se uma atividade de cariz
social educativa chamada O LEITOR. Cada fábrica tem um empregado que lê para os
colegas charuteiros. Leem os jornais, a poesia, as revistas, as receitas de
cozinha e os romances eternos. Estes leitores são certamente o veículo cultural
na rotina dos operários, que passam os dias a enrolar as folhas de tabaco. Os
grandes romances como Madame Bovary (Gustavo Flaubert) e Os Miseráveis (Vitor
Hugo) terão ajudado a alimentar a consciência social dos trabalhadores, a
maioria dos quais eram analfabetos. Algumas das personagens desses romances,
por exemplo Romeo e Julieta, Sancho Pança, Monte Cristo tornara-se nomes de
marcas de charutos.
São os próprios operários que escolhem o que querem ouvir enquanto enrolam os charutos, ler com os ouvidos. Até ao início da segunda metade do século vinte eram os próprios operários que pagavam o salário ao LEITOR, quer em dinheiro quer produzindo uma quantidade de charutos para que o colega não tivesse que os fazer.
As fábricas de tabaco brasileiras deixaram outros legados culturais. Nelas nasceu O Samba de Roda, uma tradição da cultura afro-brasileira. As operárias, enquanto enrolavam os charutos, entoavam cantigas e usavam as ferramentas de trabalho como percussão. A fábrica Suerdieck, fundada 1892 pelo alemão August Suerdieck, é exemplo disso. O Samba de Roda é, pois, um estilo musical popular brasileiro, uma variante do samba com raízes africanas, que reúne diversos músicos, poesias e dança. O grupo de músicos forma uma roda que tocam vários instrumentos dos quais de destacam a viola, o pandeiro, o chocalho, o atabaque, o ganzá, o reco-reco, o agagê e o berimbau.