domingo, 15 de novembro de 2015

MEMÓRIAS DE UMA CINTA DE CHARUTO

Branco foi meu nascimento e das cores do arco-íris me vestiram para identificar um charuto. Representei uma casa de família e fui retrato de personagens mundiais. Durante a minha função, abracei, como se fosse um anel de noivado, um robusto charuto. Estava desempenhando o meu papel quando senti o calor incandescente das folhas que ardiam silenciosamente, comprimidas, até que fui salva pelas mãos do fumador. Nuvens de fumo envolviam o espaço, criando um compromisso entre o sonho e a realidade, despertando prazeres voluptuosos entre o fumante e os outros. 
Agora, já na idade de reforma, alojada num classificador, gozo pacientemente o merecido repouso. Convivo com outras cintas, de países e fábricas diferentes, e, apesar das diferenças, em particular a linguagem, somos iguais. Depois de uma vida curta no desempenho, com profissionalismo, do trabalho que me foi confiado, vivo numa expetativa excitante de ser objeto de troca com outras cintas, viajar para outro lugar, conhecer outras cintas e outros colecionadores.