domingo, 18 de dezembro de 2011

O ritual ou a arte de fumar charutos

Fumar um charuto pode ser uma arte se nos envolvermos num ritual, que passa, necessariamente, pela escolha de um bom charuto. A textura e a cor da “capa”, a disposição das veias, os detalhes da sua feitura, o toque aveludado e o aroma exalado são factores iniciáticos dos primeiros prazeres.

A alma do charuto, aquilo a que vulgarmente chamamos brecha, enchimento, torcida, miolo ou filler, pode ser feita com folhas de tabaco inteiras ou com folhas cortadas. Após o corte, utilizando uma pequena guilhotina de plástico ou uma pequena obra de arte de aço, prata ou ouro, o fumador deve ter o cuidado de não acender o charuto na ponta errada. Deve igualmente assegurar-se que as suas mãos estão isentas de quaisquer perfumes, pois o tabaco tem a propriedade de absorver com facilidade os odores que estão à sua volta. A título de exemplo: o simples facto de acender um charuto logo após ter feito a barba ou ter-se perfumado, e se não lavar as mãos, faz com que o charuto fique com o sabor do perfume.

O fumo pode ser através da chama de um fósforo, próximo da ponta do charuto. Durante esta operação, o fumador fará várias aspirações e com a ajuda de uma das mãos dará voltas ao charuto, na boca, para conferir uniformidade da queima inicial.

A manutenção da cinza durante a queima já passou de moda. Os charutos fabricados com folhas inteiras permitem a permanência da cinza, devido à estrutura das veias, ao contrário do charuto de fumo picado. É da praxe não se tragar o charuto, deve-se deixar a fumaça permanecer na boca, degustando e aspirando, lentamente, e sentindo a doçura dos bons charutos. Por fim, a pedra de toque do prazer da degustação, após três quartas partes do charuto, passa pela deposição no cinzeiro da parte restante para que se extinga por si mesmo.

domingo, 13 de novembro de 2011

Romeu e Julieta

Esta tragédia foi escrita entre 1591 e 1595 pelo actor e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616) sobre dois adolescentes, cuja morte acaba unindo as suas famílias, até então rivais. A história desenrola-se em Verona (Itália), incidindo na rivalidade entre as casas de Capuleto e dos Montequio, que se envolviam permanentemente em lutas. Romeu, filho dos Montequio, era o único que se afastava dessas lutas. O destino fez com que Romeu cortejasse Julieta e ambos juraram amor eterno. Julieta, recusando o casamento que o seu pai lhe impõe, toma um narcótico. Romeu acredita que ela está morta e mata-se. Julieta, ao acordar, vendo Romeu morto, suicida-se em seguida.


Com base neste amor impossível, nasce um dos charutos havanos mais famosos. A marca foi estabelecida em 1875 por Inocêncio Alvarez e Mannin Garcia e, posteriormente, adquirida em 1903 por José “Pepin” Rodriguez Fernandez que, viajando pela Europa e América, promoveu a marca e inscreveu a sua égua Julieta em várias corridas. “Pepin” lançou uma campanha de marketing para os charutos Romeu e Julieta, que incluía contratos directos com o público, eventos, publicidade ao produto e viagens promocionais.


O suicídio de amor entre Romeu e Julieta ficou para a história, assim como a paixão pelos charutos está na base do sucesso da marca. O atraente rótulo das caixas de charutos representa a cena do balcão da peça Romeu e Julieta.


Após a revolução cubana de 1959, a marca mudou-se para a República Dominicana, mas Cuba, que nacionalizou a marca, continua a produzir Romeu e Julieta.

domingo, 28 de agosto de 2011

Explicando

Desde o século XIX que os charutos cubanos são os melhores do mundo. Em Cuba, a região privilegiada para a plantação de tabaco é o vale de Vuelta Abajo (Pinar del Rio), que oferece excelentes condições climáticas e de solo.


Entre as várias marcas está a Punch, criada em 1840, em Habana, por Manuel Lopez, proprietário da J. Valle & Cia. O nome da marca foi adoptado tendo em conta o mercado britânico e a revista de humor e sátira Punch (soco), que na época estava em voga.

Relativamente ao nome da revista, que serviu de adopção para a criação da marca de charutos cubanos, fora criada em 1841 por Mark Lemon e Henry Mayhew. Mais do que o humor e a sátira, a revista investia em criticas políticas e sociais, que incidiam sobre o cinismo do governo, a alta sociedade e ao modo como os trabalhadores eram tratados pelos empregadores. A primeira fase desta revista viria a terminar em finais do século XX (1992), e a segunda fase foi publicada entre 1996 e 2002.


No que se refere à marca de charutos, que ainda hoje existe, a litografia da caixa ilustra quatro momentos da produção de charutos e uma imagem de Mr Punch a fumar um charuto, acompanhado por um cão.


A marca Punch hondurenha foi originalmente manufacturada em Tampa (Florida, USA) e transferida para as Honduras em 1969.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

À descoberta da personagem


A indústria charuteira serve-se não só da temática retratista das figuras da história, da fauna e da flora, mas também das personagens dos grandes romances, ilustrações litográficas que documentam e embelezam as caixas e as cintas de charuto.

Respondendo a esses objectivos, a fábrica brasileira Suerdieck lançou no mercado interno e no alemão a marca de charutos Iracema. Trata-se de uma lenda do Ceará, escrita em 1865 por José de Alencar (1829-1877).

O romance trata, de forma poética, o amor quase impossível entre um branco, Martim Soares Moreno, colonizador português, e a bela índia Iracema, a virgem de lábios de mel e de cabelos negros. Iracema, índia da tribo dos tabajaras, era uma espécie de vestal, por guardar o segredo de Jurema (bebida mágica utilizada nos rituais religiosos).


A acção inicia-se no princípio de 1604 e prolonga-se até 1611. A relação do casal serviria de alegoria para a formação da nação brasileira. A índia Iracema representaria a natureza virgem e a inocência, enquanto que o colonizador Martim (referência a Marte, deus romano da guerra) representa a cultura europeia. Do envolvimento dos dois surgirá o Brasil, representado alegoricamente pelo filho do casal, Moacir.

Iracema é um anagrama de América e, para alguns críticos, representa uma metáfora sobre a colonização americana pelos europeus.